quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Importância do melhor amigo para a criança

Por Priscila Caldeira - Equipe BBel
Publicado em 20/09/2011

 Faixa etária e identidade


                                                                                                       Shutterstock

Manter amizades não é só benéfico para os adultos. Desde a fase inicial de vida, o estabelecimento de vínculos afetivos assume importância. Segundo os especialistas, é a partir dos 6 anos de idade que a criança consegue "eleger" um amigo, seja por meio de uma brincadeira ou de um jogo que possibilite uma identificação entre as mesmas faixas etárias.

"Com o passar do tempo, conviver com amigos traz, de forma expressa, a possibilidade de desenvolvimento da diferença entre certo e errado, a possibilidade de aprender a ganhar e a perder, a aceitar diferenças e a seguir regras, pois toda boa convivência está sujeita a elas", afirma a especialista em psicologia clínica na abordagem Gestáltica, Claudia Marinho.

Como aponta, a percepção do melhor amigo pode surgir aos 3 ou 4 anos, mas a "memória afetiva" só será registrada a partir dos 5. "Em torno dos 4 anos de idade a criança compartilha seu mundo interno com um colega, mas somente após os cinco anos é que essas crianças têm a capacidade para reter essas memórias e lembrar com carinho dos amigos que fizeram nessa época", ressalta Claudia.

Com o passar dos anos, o vínculo de amizade tende a aumentar. "A partir dos 10 anos, esse vínculo surge quando a criança está em busca de modelos para o desenvolvimento de sua identidade. Antes disso, ela elege seu melhor amigo para brincar", explica a educadora e mediadora de conflitos, Suely Buriasco.

 Importância


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Além de saudável, o estabelecimento de vínculos afetivos possibilita a convivência com regras e limites necessários à vida em sociedade. Ao ver seu comportamento espelhado nas reações do outro, a criança tem condições de conhecer vários modelos de relação e se atentar à noção de limite.

As crianças com a mesma idade têm facilidade na convivência por estabelecerem a mesma linguagem e vestirem-se de formas semelhantes. "Permite a todos os envolvidos uma melhor estruturação de seus processos de diferenciação que, por consequência, influenciarão na construção de um 'eu' mais saudável", afirma a psicóloga Claudia Marinho.

Estabelecer vínculos afetivos fora da esfera familiar é mais desafiador para a criança, já que permite a ela sair da "zona de conforto" e lidar com outros ambientes. Segundo a psicóloga Lilian Lerner Castro, firmar vínculos de amizade é um processo que depende do amadurecimento cognitivo. "A criança precisa se ater a regras e aprender a lidar em sociedade quando se depara com os amigos".

Ao enfrentar situações novas, os amigos funcionam como referenciais, sendo importantes para dar apoio em uma situação em que o outro se sentiu inseguro. O fazer parte de um grupo e o sentir-se aceita pelas pessoas da mesma idade fornecem a base de toda a estrutura emocional da vida daquela criança.

"Existem alguns estudos que falam das consequências da falta desse vínculo na primeira infância - inclusive com crianças que vão cedo para a creche - e que fazem correlações desta até mesmo com dificuldades de aprendizado", afirma Claudia Marinho.

A amizade predileta costuma levar a trocas positivas e, segundo Suely Buriasco, os momentos de afetividade vividos por meio da amizade são fundamentais para a formação de personalidades "sadias" e capazes de aprender. "Sem essa consciência, a criança enfrenta grandes dificuldades de socialização. Se a criança é tímida e o amigo não, ela passa a ficar mais expansiva. Se um é estudioso, o outro pode se interessar mais pelos estudos".

A troca de hábitos culturais da família de cada um também irá possibilitar o desenvolvimento de ambos. Os amigos passam a descobrir e praticar valores de um bom relacionamento, como fidelidade, cooperação, solidariedade e respeito ao outro.
Os pais exercem papel fundamental no estímulo de vínculos afetivos.

 Apoio familiar


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Os pais precisam dar um espaço para que as crianças estabeleçam suas relações, sem, no entanto, deixar de determinar limites e regras. Para a educadora Suely Buriasco, o ideal é sempre os pais estabelecerem elos de cumplicidade com os filhos sem ser invasivos. "Para isso, é preciso que aceitem que existe um mundo entre o filho e o amigo do qual os pais não fazem parte. Essa atitude pode fazer dos pais parceiros confiáveis para dividir as partes boas e os conflitos que surgirem dessa amizade".

A família pode propiciar que o filho vivencie outras realidades, estimulando-o a convidar os amigos para brincar em casa. "Eles devem procurar atividades coletivas como um esporte, por exemplo, e atividades que sejam feitas em grupo", sugere Lilian Lerner Castro, principalmente para as crianças mais tímidas.

Para a psicóloga Claudia Marinho, os exemplos são a melhor forma de mostrar para a criança com dificuldades em relacionar-se que estabelecer amizade pode ser prazeroso. "Interaja com seu semelhante de maneira cordial e estará dando ao seu pequeno uma boa noção de que o outro pode ser muito bom".

Se a criança demonstrar dificuldade em fazer amizades, as especialistas recomendam o respeito. "Respeite a maneira de ser de seu filho, mas procure conversar com ele e descobrir se tem alguma coisa errada. Procurar ajuda especializada em casos extremos é uma saída", frisa Claudia.Suely afirma que propiciar diferentes momentos da rotina familiar interagindo com outras famílias com filhos é interessante para a criança sentir-se mais segura. Desta forma, os pais devem propor atividades em que as crianças tenham que trocar seus conhecimentos, buscar ajuda de outras e esforçar-se em serem compreendidas.

De acordo com a educadora, é importante que os pais não transformem essa preocupação em "neura", muito menos que forcem qualquer situação. "Nesse caso, o efeito será totalmente contrário ao desejado, ou seja, o filho poderá intimidar-se, tornando-se ainda mais introvertido".

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